Bom, só relatando um pouco a minha história. Tudo o que meus avôs conquistaram, tanto os maternos quantos os paternos, foi com muito esforço e dedicação, trabalhando como empregados em terras de outros (brancos).
Engana-se quem pensa que a escravidão terminou após a assinatura da lei áurea, por imposição da coroa britânica, e não por bondade dos governantes lusitanos.
As condições de trabalho continuaram precárias, a forma de pagamento idem. No geral, muitos dos que detinham o conhecimento, ainda se aproveitavam da falta de informação dos afro-descendentes.
Mas mesmo assim, os meus avós, que nasceram 25, 40 anos após a escravidão, conseguiram algum bem material, mas não o suficiente para dar conforto, uma boa educação aos filhos, que no geral, devido a falta de conhecimento de métodos anticonceptivos, eram de 15 ou 20.
Todas as mazelas que atingiam a sociedade brasileira nas décadas de 10, 20, 30, 40, 50 e até as de 60 e 70, abrangiam em sua grande maioria os descendentes dos escravos. No que dizia respeito à questão da qualidade de vida, um a parcela ínfima dos negros gozavam dessas benesses sociais.
Tomo o meu caso como exemplo. Até 1996, vivia em uma cidade de 5.000 habitantes. Permaneci nela até concluir o 2º grau, hoje ensino médio, ao mesmo tempo em que trabalhava nas colheitas de algodão e com meu pai como servente de pedreiro.
Enquanto alguns estudantes de classe média saíam para estudar nos grandes centros, Curitiba, Londrina ou Maringá, outros estudavam em faculdades privadas em Jandaia do Sul, ou Mandaguari, que eram próximas, eu vim para Rolândia, não para estudar em uma faculdade, mas sim para trabalhar.
Tive de deixar o sonho de ser arquiteto ou engenheiro para trás. Só fui conseguir entrar em uma instituição de nível superior aos 25 anos, isso por que entrei na UEL, que era gratuita, e ainda em um curso, me perdoem a expressão, mais barrelinha, Letras.
Na ocasião em que fui aprovado no vestibular, não existia PROUNI, nem costas raciais ou para estudante de escola pública.
Gostaria que não fossem necessárias as cotas para afro-descendente, ou ainda para os alunos da rede pública. Seria interessante um fortalecimento da educação no geral, partindo dos primeiros anos, para que não fosse mais preciso esse bebeficio.
Mas o que fazer então? Esperarmos mais 100 anos para ver se as coisas mudam? Acredito que muitas pessoas não querem que as coisas mudem, não tão depressa assim. Toda mudança assusta. Acho engraçado que no geral, os mesmos que exaltam os Americanos por sua política e cultura, que a anos já possuem esse sistema de cotas em seu país, são os mesmos que repudiam essa idéia aqui no Brasil.